Tenho permanecido num ciclo de indigência emocional. Não é miséria, mas
também não há fartura de oportunidade.É fato, há oferta. A verdade é
que tenho me albergado, no tempo por tempos, vagabundeando pelo mundo
sentimental. Vagante em outras vidas, a esmola que arrecado são novas
histórias ou a simples possibilidade delas. Encontro sim benfeitores
e deparo-me também com tiranos - e das santidades ou tormentos não
os culpo, se me atingiram foi por que eu permiti. Sei bem dos meus
pecados e das minhas badernas, não me eximo. Independente dos
resultados, recompenso-me sempre em me oportunizar viver, testar,
tentar e experimentar. Mas quando decido findar, com eminente destreza cesso, deixo ou me ausento, umas vezes mais outras menos sofridas. Foi-se tempo em
que torturavam-me os pensamentos ou julgamentos alheios. Só
zombarias, em nada alteram o que ocorreu, vivo ou acontecerá.
Reconheço
que nem tudo é desapego. Vez ou outra, descambo nas ladeiras da paixão
e de coração palpitante penso em renunciar ao ciclo, mas não tarda
e aquele que seria mártir crucifixa-se em desastrosos atos de
virilidade - para não mencionar o enfadonho machismo - e coloca
tudo a perder.
Sou
sim, em demasiado, laboriosa, mas permito-me (simples, sedenta,
carente) em vivências no almejo de ajuste para que, quiçá, num
tempo nos tempos futuros eu possa viver um novo amor. Por enquanto,
fugindo das complexidades, fico nesta arruaça que o mundo me oferta.
Sigo ouvinte dessas frases repetidas, dos desejos instantâneos e dos
sentimentos fugazes. Sigo na sucessão de inícios, meios e fins.
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