Uns dias são melhores, outros nem tanto. Há aqueles em que a cada distração o pensamento povoa-se de fantasmas. Respiro e torno a me concentrar. Não quero espectros, quero possibilidades reais. 

Dias desses a nostalgia do verão me arrebatou. Neste caso de um em específico: o verão passado. Naquele mês que findava o ano e naquele de início do outro, meses de uma história sem compromisso que me fez tão bem. E se me confessas que também esteve nostálgico, fez-te bem também. Foi bom assim. Assim sem compromisso. Assim efêmero. Assim de boas lembranças...e foi assim: só isso...

Inunda-me de sofrimento a alma, quando preciso afastar aqueles que almejam proximidade e solidária compreensão. Entendo as expectativas, mas é melhor que fique a distância, não queira se aproximar. Muito pouco tenho a oferecer, quase nada, neste momento em que sou fortemente dedicada ao egocentrismo.  

Se não me arrebata em ardor, nem tente. E não há culpado, a não ser a insensata paixão que não se fez presente agora. Não tivesse faltado isso, estaríamos em demasiado momento de êxtase. No entanto, ela fez-se ausente, certamente intensificada por minha extrema falta de paciência em buscar outros deslumbres. Sendo assim, fato consumado, antecipo o desfecho e poupo consternações futuras. Compreenda... Não sou indiferente aos sentimentos alheios, o problema é que sou claramente fiel aos meus. 

"As minhas famigeradas expectativas me colocam tantas vezes perante a decepção, mas não deixo desfalecer a esperança e sigo em busca dos apaixonantes assombros que o inesperado me proporciona"

Queria tanto que as coisas ao chegarem em minha vida não fossem tão previsíveis e que as pessoas não fossem tão presumidamente de ações incrivelmente idênticas.  Tão pouco é necessário para surpreender, mas a mesmice impera nesse mundo diverso. Fazem tanto esforço para fazer sempre da mesma maneira... cansei... cansei...

Há em mim tanta discrepância quando é necessário administrar as pessoas certas em momentos errados. Certo ou errado? Devo ou não? Desisto ou continuo? São dúvidas que percorrem com grande insistência meus pensamentos. Entretanto, ainda mais persistente é minha comodidade em querer deixar tudo como está.

Proposta: você não perturba mais minhas ilusões e em meus braços te faço perpetuar, em realidade, meus melhores sonhos?????

Me distraí com teus encantos, me deixei levar pelo teu mistério. Me esbugalhei em risos com as tuas graças e precisei controlar o pranto com teus sumiços. Pensava que era medo, quisera mesmo que fosse. Era nada! Muito mais do que eu, te mantinhas longe por conforto, aquele que eu tanto temia desafiar.

Recostei-me sobre o macio travesseiro, fechei os olhos, descansei... mal podia acreditar no encontro que o destino me proporcionara. Era um novo junho, estava diante de você, e podia sentir o confortante calor do seu corpo. Não era sonho, era saudade. Aquela forte que faz sonhar. Aquela que aparece de tempo em tempo, para me lembrar que és hoje tão diferente...

 Há pensamentos que são preces...

palavras que, mesmo solitárias, 

são verdadeiros discursos...

silêncios ensurdecedores...

olhares que são declarações...

há pessoas que nos inspiram a escrever...

E há também aquelas, as mais perigosas,

que nos deixam totalmente sem palavras, 

mas pouco sabem sobre o poder que detêm.

Me revesti de escudos para aquele que foi transparente. Fui transparente para aquele revestido de escudos. Dilacero assim todas as possibilidades de entrega. Me certifico das impossibilidades e deixo entrar na minha vida. Dilacero assim todas as possibilidades de desafiar minha estabilidade sentimental. Faço assim para manter-me constante e intensa longe de tudo que possa ser cometimento. 

Essa minha cômoda opção me mantém sossegada na rede da vida que é um vai e vem de sentimentos. Porém, alguns cruzaram meu caminho e me propiciaram surpreendentes tombos dessa confortável situação.  Uns poucos me tiraram dali e me fizeram flutuante... uns poucos. Outros tantos, apenas fortaleceram meu desejo de eternizar-me na rede. 

Ah os desencontros... muito próximo, extremamente perto, muitas vezes bem ao alcance dos meus olhos, mas o caminho é somente de desencontros, mesmo quando há encontro. Não pudera ser diferente, afinal só haveria encontro se soubesses, ah se soubesses, dos esperançosos desejos...

Posso, por muitas vezes, não ter certeza sobre o que quero, mas ultimamente tenho cada vez mais certeza sobre as coisas que não quero em minha vida. 

Não vivo amargurando as vivências do passado, pelo contrário, visionária que sou, me entorpeço em esperanças futuras. Vivo assim, me consumindo em esperanças e esforços para futuros possíveis, e não nego, às vezes, desejo também os impossíveis. E como desejo...

O grande problema é que almejo muito mais do que o mundo me oferece e os pensamentos vão longe para buscar algo que está tão próximo. Pensar demais sobre atitudes mínimas é minha clausura.

Tempo e espera me trazem tantos outros pensamentos... não brinque com isso, sempre posso encontrar algo mais interessante na ociosidade.

Ah se tu soubesses quanto bem te faria entrar em meus devaneios e se deixar levar por meus doces sonhos... sem planos, sem expectativas... só enlouqueça comigo de vez em quando...